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Desapego total: famílias vivem em comunidade no interior

Roça

Subsistência do grupo é oriunda de vários setores de produção. Principal atividade é a agrícola. Fotos: Alexsandro Wojcik / CTP.

Alexsandro Wojcik

Há 23 anos, seis famílias de Curitiba venderam tudo o que tinham, compraram uma propriedade rural e passaram a viver de forma comunitária. O grupo, formado por descendentes de várias etnias e oriundos de várias classes sociais, passou então a comprar mantimentos de modo coletivo. Com a mútua confiança gerada pela iniciativa, os membros começaram a estudar a possibilidade de desenvolver a vivência solidária de forma integral: produzir a própria alimentação, gerar fontes de renda, ter um único carro para o uso de todos, confeccionar as próprias roupas, enfim, ser tão autossustentável quanto possível.

MoradiasComposta por Kardecistas e estabelecida no interior de Contenda, 18 km distante do centro, a Comunidade do Terceiro Plano (CTP) reúne, hoje, 17 famílias numa área de aproximadamente 50 hectares de terra (na foto ao lado, uma das moradias). No início, houve dificuldades, mas, com a evolução dos setores produtivos, a qualidade de vida dos membros da comunidade aumentou de maneira considerável: um estudo feito pelo programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento da Universidade Federal do Paraná demonstrou que, desde a fundação, a renda per capta passou de R$ 100 para R$ 2.500, considerando a qualidade de vida alcançada pelas famílias com os bens produzidos.

Subsistência e sustentabilidade

No total, 44 pessoas integram a comunidade atualmente. A mão de obra se divide em vários setores de produção sendo a principal atividade a agrícola. Vários pesquisadores da área já atestaram, em muitos aspectos, a responsabilidade com que os membros conduzem a atividade no campo. “Zelamos muito pela conservação do solo. A adubação, por exemplo, é toda orgânica.”, afirma Edson Nunes Campos, agrônomo e um dos líderes da comunidade.

Pepino, abobrinha, beterraba, cebola e repolho são apenas algumas das culturas cultivadas na CTP, das quais boa parte viram conservas: todas certificadas pelo selo orgânico Ecovida. A maior parte da produção é comercializada com os Governos Estadual e Federal, através do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). “É uma fonte de renda certa. No contrato com o Governo, temos o valor de venda das hortaliças previamente estipulado, assim como a quantidade.”, explica Edson. “Até poucos anos atrás comercializávamos com todas as grandes redes de supermercados da capital.”, completa ele.

Corte chamadas site

A comunidade possui um trator cedido em comodato pela Prefeitura Municipal e recentemente também financiou outro através do programa Mais Alimentos do Governo Federal, além de uma Van, ambos já quitados. Embora os terrenos sejam de difícil acesso e manejo, o uso de tratores e máquinas é evitado ao máximo e, quando conveniente, cavalos também auxiliam no preparo da terra. Na parte agropecuária, a comunidade cria cabras leiteiras. Rico em vitaminas, proteínas e sais minerais, o leite de cabra faz parte do cardápio diário, principalmente das crianças.

fotos juntas

Além das atividades no campo, uma marcenaria, uma gráfica e serigrafia e uma fábrica de artefatos de concreto (fotos acima) representam outras das principais fontes de renda que o grupo possui. Nelas, são feitos materiais tanto para o uso próprio quanto para venda na região – a cidade de Quitandinha, por exemplo, fica a 10 km.

Educação

CriançasNo início, as crianças da comunidade frequentavam escolas da região, mas tinham dificuldades de adaptação e rendimento, foi então que uma escola informal foi criada. “A secretária municipal de educação acompanha o desempenho dos alunos e auxilia com o envio de materiais. Em suma, procuramos seguir a grade escolar do município.”, afirma Edson, que vive com mulher e filha no local.

Todos os bens existentes na comunidade são de uso coletivo e os conceitos empregados são passados desde cedo às crianças, que aprendem o viver em comunidade e acompanham os pais em tudo, inclusive nos mutirões na roça.

Organização financeira

Na CTP, toda renda gerada é depositada em um único fundo, de onde provém o recurso para todas as necessidades do grupo. “Se precisar comprar tecido, mantimentos, ou qualquer outro item, é feito uma lista e nós vamos adquirir na cidade. Quando alguém precisa de algum cuidado médico específico, como um dentista, por exemplo, é feito o mesmo.”, explicou Edson. “O conselho da comunidade é que faz essa gestão.”, finaliza.

Expansão

Recentemente, representantes do Terceiro Plano estiveram reunidos com o secretário de Estado da Agricultura e do Abastecimento, Norberto Ortigara, para pedir o apoio do Governo para expandir as atividades em outras regiões.

“Não podemos crescer em número sem perder a qualidade de vida que conquistamos. Estamos aguardando uma resposta do Estado.”, explicou Edson.

Crenças

Todos os membros da comunidade são kardecistas. O kardecismo é uma forma de espiritismo codificada por Allan Kardec, a partir dos ensinamentos que teria recebido dos Espíritos desencarnados designados para sua revelação.

Nas quartas-feiras ninguém trabalha na comunidade. É o dia de confraternização e o trabalho na lavoura e nos demais setores dá lugar às atividades religiosas e alternativas. “A comunidade começou com esses estudos, essa filosofia espírita. Além da questão do ‘bem-proceder’ um com ou outro, que é a base de qualquer filosofia correta, havia o desejo e o dever de ter essa vivência mais profunda, baseada nas primeiras comunidades cristãs.”, explica Edson.

Já entre as atividades alternativas desenvolvidas no local, há um cinema com capacidade para 170 pessoas, que conta com um enorme acervo de filmes e músicas. Uma biblioteca também compõe o centro. A comunidade ressalta que o cinema está sempre disponível às escolas de Contenda e das cidades vizinhas.

Crenças à parte, nota-se uma extrema satisfação no olhar de cada um dos membros da comunidade pela vida que escolheram.

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Sobre Alexsandro

Idealizador e Jornalista responsável pelo Jornal MARCA.
MTB 9936/PR.

Idealizador e Jornalista responsável pelo Jornal MARCA.
MTB 9936/PR.

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