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Erva Mate Legendária mantém a produção artesanal desde 1945

Fonte: Gazeta do Povo.

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Desde a fundação da Legendária, o maquinário e o jeito de produzir o mate são mantidos pela equipe: só a roupa mudou. Foto Antônio More / Gazeta do Povo.

O sabor se mantém o mesmo há 70 anos. Era outubro de 1945, quando três irmãos resolveram inovar em uma tradicional área paranaense, na cidade que foi palco de um importante evento histórico, o Cerco da Lapa. Na histórica cidade, nasceu a ‘Herva Matte Legendária’, que mantém até hoje os mesmos equipamentos e a mesma maneira artesanal de produzir o mate.

É uma das raras empresas do estado que preserva esses traços quase centenários. A herdeira e atual proprietária da Legendária, Maria José Silveira, conta que os equipamentos devem ter mais tempo de uso do que se imagina. Isso porque eles foram comprados de outros engenhos do Paraná que estavam cessando as atividades nos anos 40. O aparelho mais moderno que existe na empresa é uma balança eletrônica, adquirida há oito meses. “A antiga, que era de prato, começou a dar problemas. E esse sistema de engenho que temos é o único em atividade no estado”, faz questão de ressaltar Maria José.

A história desse legado remete a uma época em que Lapa sequer tinha engenho de erva-mate para servir ao mercado local. O único que existia, o Engenho Santo Antônio, só produzia o material visando o mercado externo. Foi nessa brecha, que o pai de Maria José, Alexandre, e dois tios dela – José e Raul Kuss – decidiram migrar de trabalho. Até então eles trabalhavam, no mesmo local onde foi fundada a Legendária, com uma fábrica de ‘palhões’, que eram esteiras costuradas de palha para fazer embalagens para garrafas de vidro, pois não eram comuns engradados como conhecemos hoje. Mas, a mudança de ramo não foi feita no completo improviso. O trio já possuía experiência no trato da erva-mate. Quando ainda moravam em São Mateus do Sul, eles trabalhavam na colheita e no plantio da erva. “Resolveram trazer essa experiência para Lapa e montaram essa instalação para o beneficiamento da erva-mate”, conta Maria José.

Dificuldades não faltaram. O fornecimento de energia elétrica, para fazer parte de alguns equipamentos funcionarem, era instável. “Tinha que trabalhar quando havia luz”, diz. Isso poderia ser em pleno horário do almoço ou horas antes de dormir. “Sempre lutamos contra as dificuldades”, diz a herdeira, que começou a trabalhar na empresa da família aos 23 anos, quando terminou o magistério e não quis seguir a carreira de professora.

Acervo particular. Foto mostra que a rodução não mudou ao longo dos anos

Foto do acervo particular mostra que o estilo da produção não mudou ao longo dos anos.

Qualidade

Depois de 45 anos na lida, Maria José orgulha-se pela qualidade do mate produzido pela Legendária. A mesma fórmula adotada pelo seu pai e seus tios continua sendo praticada. “Nossa erva é pura folha. Não leva galhinhos nenhum. Acreditamos que dá mais qualidade para o mate”, relata a proprietária. A empresa só compra erva com no máximo 10% de galhos, que são considerados resíduos e retirados do produto final.

Para isso, a matéria-prima deve ser de qualidade. Há, segundo ela, um fornecedor exclusivo que trabalha em São Mateus do Sul. “A colheita é manual, não usa máquinas. Todo processo é o mais artesanal possível. Até o empacotamento final continua sendo manual”, comenta. A secagem das folhas sob fogo intenso chega a levar 12 horas. “Esse processo mais lento dá mais sabor”, explica. Para ela, todo cuidado durante cada etapa de beneficiamento do mate irá refletir no produto final. “Por isso mantemos a tradição que está dando certo durante esses anos.”

A erva-mate que chega à Legendária fica, em média, 90 dias descansando. Depois desse período, ela passa por peneiras de classificação e passa por moinho de pré-trituragens. Após isso, a erva segue para os pilões. Passado nos pilões, passa em outra peneira de padronização para seguir para o empacotamento. Mas se a erva não atingiu o nível de qualidade, ela volta aos pilões para ficar “no ponto”.

Produção e museu

Segundo a proprietária Maria José Silveira, a produção da Legendária gira em torno de cinco a sete toneladas por mês. “A produção não é muito grande. O sistema de beneficiamento é simples”, diz. A produção é vendida em várias cidades vizinhas e também sob encomenda. O telefone para contato é (41) 3622-1303. A sede da empresa também conta com um museu, onde é possível conhecer um pouco da história da Legendária e da erva-mate no estado. O local recebe visitas de grupos de escolas e universidades.

Erva-mate faz parte da rotina do Paraná

Os primeiros habitantes do atual estado do Paraná a fazerem uso da erva-mate foram os índios guaranis, que habitavam a região das bacias dos rios Paraná, Paraguai e Uruguai na época da chegada dos colonizadores espanhóis. Da metade do século XVI até 1632, a extração de erva-mate era a atividade econômica mais importante desse território, que abrangia o Paraná e onde foram fundadas 15 reduções jesuíticas.

O ciclo econômico da erva-mate atingiu seu ápice no século XIX, período em que chegou a representar 85% da economia da Província do Paraná. As mudanças ocorridas nos meios de transporte se intensificaram com o desenvolvimento justamente da economia ervateira: desenvolveu-se a navegação fluvial nos rios Iguaçu e Paraná, construiu-se a ligação entre o planalto e o litoral com a Estrada da Graciosa e a Ferrovia Paranaguá-Curitiba.

Em 1882, por exemplo, foi inaugurada a navegação a vapor no Rio Iguaçu. Os maiores vapores transportavam 800 sacos de erva-mate, em média. Em 1885, a Ferrovia ligando Curitiba a Paranaguá se tornou a principal via para o escoamento da erva-mate destinada à exportação.

Até que em 1929 ocorreu a quebra da Bolsa de Nova York e o mundo todo entrou em recessão. O ciclo da erva-mate mergulhou numa crise e se iniciou um novo ciclo econômico no estado: o da madeira. Na década de 1940, foi a vez do café roubar em cena. O mate tornou-se coadjuvante na economia paranaense.

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Sobre Alexsandro

Idealizador e Jornalista responsável pelo Jornal MARCA.
MTB 9936/PR.

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